segunda-feira, 18 de junho de 2012

E eu estava lendo, e tinha lá, bem no meio da folha, no final da frase: "- Eles se amavam..."

E eu disse em voz baixa: " - A gente também"


E a gente não tem mais nada pra fazer a não ser dizer que tá tudo bem. Porque vai passar, passa. Só que antes de passar maltrata. E, entenda, a pior dor é aquela que ninguém vê.


Achei isto no meio de um monte de tralhas no baú velho próximo a porta de saída do quarto, em meio a cadernos velhos e essas coisas que estudantes acumulam durante a vida escolar (como eu não era uma estudante muito habitual minhas tralhas se resumiam  a cadernos e agendas). A capa vermelha do diário me chamou atenção. Não era como se eu não soubesse da existência desse diário, mas por todo esse tempo vivi como se tivesse apagado da minha memória esta caderneta, não exatamente os registros contidos nele, porque estes sim, ainda continuavam em mim, mas era como se deixar este diário largado em algum canto fosse a maneira mais fácil que eu encontrara para continuar a viver ali. 

Durante estes dois anos que se passaram pouca coisa mudou. Eu continuava com as minhas obrigações de sempre, com as minhas esperanças de sempre e com os meus problemas de sempre. Se engana quem diz que os anos em que se é adolescente são os melhores de sua vida, eu na verdade venho achando desde o começo isso uma besteira, para não citar outras palavras não apropriadas para a ocasião.

Não vou mentir, eu folheei, reli palavra a palavra que escrevi aqui. Acordei  os sentimentos mais escondidos que poderiam estar em mim, as feridas que por estes dois anos eu achei que haviam se cicatrizado, mas ainda sim eu consegui sorrir, mesmo sentindo meu coração se apertar, ao relembrar cada momento. Aquele quase um ano que passei com ela, eu diria que foi o ponto alto da minha vida. Eu nunca passei tanto medo, mas também nunca senti algo que fosse mais forte que meu medo rotineiro, como o que eu sinto por ela. Depois de reler tudo, fechei o diário, o guardei embaixo de meu travesseiro, onde costumava ser o lugar dele, e não consegui dormir aquela noite.

E então, agora, quase uma semana depois de toda onda nostálgica, eu decidi começar...(ou seria voltar?) a escrever...não sei ainda exatamente o porque, talvez porque assim me sinto menos sozinha, talvez porque assim eu consiga conversar coisas além de equações matemáticas e fórmulas de química. 

Vou começar do começo, do começo do meu fim. 

Alguns meses já haviam se passado, e a diretora, preocupada com meu estado na época, me aconselhou a entrar em contato com minha família, para conseguir apoio psicológico. Não que eu precisasse disso...eu já havia passado por psicólogos antes, e eu sabia muito bem que não eram deles que eu precisava, mas mesmo assim acatei a sugestão, afinal, era a diretora, e dentre os adultos que passaram na minha vida, confesso que poucos fizeram a diferença como ela fez...só por tratar Paulie como ela costumava tratar, ela já tinha meu crédito. 

Cheguei a receber duas visitas de meus pais, um avanço, visitas cheias de falsidade, eu diria, mas ainda sim eram visitas. Eles  nunca souberam o real motivo, nunca se quer se importaram, e algo me dizia que mesmo que soubessem, eu continuaria enclausurada ali, então não fazia diferença. Minha desculpa foi meu passado, que meu passado estava me assombrando...e toda aquela história que eu realmente passara meses antes. A senhora Vaughn havia aconselhado uma terapia familiar, e até oferecera uma sala no colégio para que a terapia acontecesse uma vez por semana, como era o indicado. Mas adivinha? Na segunda visita, depois de um "até a próxima semana"..nunca ouve próxima..e...quer saber?! Grande merda! Não era isso que me faria sentir melhor.

A diretora depois tentou outros meios de me fazer sentir melhor, já que a aproximação familiar não parecia que funcionaria. Tive outras três colegas de quarto, uma pior que a outra, diga-se de passagem, mas eu não fui indelicada a ponto de falar isso em voz alta...mas para a sorte delas não chegaram a ficar mais que alguns meses, e por motivos distintos deixaram o colégio. A terceira opção, de me fazer distrair e focar minha atenção em outras coisas, e está, confesso, foi bem estruturada e surtiu muito mais efeito em mim, foi começar a estudar Astrologia. Como se nem pras outras matérias mais eu tivesse cabeça, encontrei foco no céu, nas constelações, nos astros...era pacificador, e enquanto eu estava ali, nas lentes observando-os, tudo estava bem, e mundo parecia a se resumir aquilo. Apelidei uma em especial, passei a observá-la, e as coisas pareceram se tornar mais fáceis.


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