Continuei naquela íntima depressão. Naquela expectativa de final de novela de que tudo fosse dar certo. Mas nada voltou ao normal, apesar das pessoas continuarem a agirem como se tudo estivesse bem normal. As estações mudaram, e mais primaveras se completaram, mas ainda sim eu parecia incompleta. Optei por entrar para o teatro, finalmente, depois de um ano e meio no internato, eu estaria de volta aos palcos. Não pelos palcos ou pela arte em si, mas sim por ter a oportunidade de viver alguma outra vida além da minha. Dramático, poético, melancólico...eu não sabia mais descrever o que eram minhas ações, muito menos meus pensamentos ali.
Acordei por vezes durante esses meses com uma súbita vontade de mudar, como se isso fosse me dar vontade de seguir em frente, ou pelo menos essa era minha esperança. Queria ser diferente, fosse pintando meu cabelo de vermelho ou me revoltando. Então quando estava com o plano maquiavélico pronto para ser posto em ação, me lembrava de seu rosto, da sua maneira de me dizer que me amava por eu ser tão diferente...e a pouca coragem que eu tinha de mudar, evaporava. Eu já era diferente, como pode se querer ser diferente do diferente?...e eu não queria superar, eu não estava pronta para superar, e não conseguia pensar em nenhum espaço do futuro em que eu estivesse.