sexta-feira, 27 de abril de 2012
"Eu canto, porque o instante existe e a minha vida está completa."
quinta-feira, 26 de abril de 2012
"E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano."
" Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar.
Por que
havemos de ser unicamente
humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos fáceis
de andar.
Meu rosto vário
desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar. "
quarta-feira, 25 de abril de 2012
“Sou um coração batendo no mundo.”
terça-feira, 24 de abril de 2012
“Ventos exibidos, que cantam fortes, uivantes, também desafinam...”
22 de abril de 2012
"- Vai Lizzie, só um gole!" P. insistiu pela terceira vez, esticando a garrafinha de vidro cheia de vodka a mim.
"- Não, não...eu prefiro minha chaminé..." Resmunguei, mantendo meu cigarro recém aceso entre meus lábios.
"- Ahhh... sua caretinha!" Ela disse rindo, sempre fazia isso quando eu me referia ao cigarro como chaminé. Era como se ainda ela duvidasse que eu fumava...na verdade, até eu duvidava às vezes, mas quando parava para refletir sobre isso já estava com o cigarro na boca, era involuntário, por assim dizer.
Paulie deu uma gargalhada de repente que me fez olhá-la de forma estranha, como se eu tivesse levado um susto (o que era comum, vindo de mim). A vi levantar, e andar de um lado para o outro. Estremeci no mesmo instante, de pensar o quão perigoso era ela perambular daquela forma e naquele estado, afinal estávamos no telhado, ao que parecia era um dos lugares dela favoritos ali.
"- Não é incrível daqui de cima?!" Paulie abriu os braços, encarando todo o campus da escola dali, como se nem o céu fosse o limite para ela (...e eu tinha a leve impressão que realmente não era).
"- Sente-se, P. ...por favor!" Pedi, engasgando com a fumaça de meu cigarro que havia se embolado em minha garganta na tensão por ver o tamanho do atrevimento dela.
"- Calma, calma, pequena Lizzie, só deixe o ar te levar...." Paulie dizia toda sorridente enquanto o vento do final de noite e início de madrugada fazia suas madeixas dançarem no ar. Paulie gargalhou, e eu fiquei ainda mais temerosa, tendo a leve impressão de que ela ficava ainda mais maluca depois de uma garrafinha daquelas. No mesmo instante milhares de equações químicas sobre a reação do etanol no organismo me invadiu a mente, eram bilhares de consequências, mas fiz questão de afastar o pensamento, porque o que interessava agora era manter P. sã e salva. A vi se encaminhar para a beira do telhado, espiando para baixo a entrada do colégio. Levantei no mesmo instante, sentindo como se meu coração tivesse parado logo na sequência quando me toquei que estava também em pé no telhado.
"- Vamos para o quarto, Paulie"! Choraminguei.
"- Calma...por que?!...a noite é uma criança...." Ela dizia as exageradas gargalhadas. Minhas pernas bambeavam conforme eu tentava me aproximar.
"- Olha!!!" Meu coração subiu até a boca com a nova exclamação de P." - Vamos lá,....ainda está acesa..." Entendi o que ela queria dizer, afinal no prédio do dormitório era o único quarto que permanecia aceso.
"- Paulie, está tarde, não vamos incomodar ninguém!" Eu tentava algum tom autoritário, mas ainda achava que estava soando mais como uma criança chorona, porque P. se quer me respondeu, ou me ouviu, na verdade ela continuou na direção da janela que estava aberta.
"- Ei, ei, alguém ai?!" Ela perguntava já ao lado da janela. Eu estava quase próxima, havia aberto ambos meus braços para que tivesse mais equilíbrio, mas ainda sim temia, ao mesmo tempo que tentava manter o cigarro entre meus lábios. "- Vamos lá, apareça, temos bebida e cigarros! " Ela anunciava, tentando mais uma vez, até que finalmente houve resposta.
"- Quem está ai?!" Uma menina perguntou de dentro do quarto, e aos poucos fomos conseguindo ver seu rosto.
"- Aliana!!" Paulie exclamou animada na mesma hora que a viu, e eu deduzi que elas já se conheciam.
"- Vamos lá, entrem!" Ela convidou, e Paulie não pensou duas vezes, já estava com as pernas dentro da janela, enquanto eu, tentando ser sensata tentava ponderar na melhor maneira de entrar pela janela sem acabar tendo uma queda de sei lá quantos metros.
Quando consegui entrar, as duas já conversavam como se tivesse se conhecido de longa data. Paulie terminava a garrafa que tinha em mãos, e eu fora obrigada a apagar o cigarro e dar um fim nele, já que eu tinha respeito pelos quartos alheios e dava o direito das pessoas não gostarem de fumaça....sei lá né, vai saber.
"- Ali, essa é Lizzie...minha colega de quarto..." Paulie apontou para mim, e eu, timidamente, levantei um dos braços em um aceno contido. "- Lizzie, está é Ali, a conheci em um pub, em uma das minhas fugidas do colégio..." Revirei os olhos com a irresponsabilidade de P., mas vi Aliana me cumprimentar com um breve gesto afirmativo com a cabeça. "- Quer bebida, Ali?!" P. foi direto a assunto, e eu continuei no canto do quarto, ao lado da janela, distraída com os inúmeros livros que a menina parecia ter.
"- Não, não, obrigada, Paulie!" Aliana agradeceu, completando logo. "- Estou com os remédios...sabe..." P. concordou no mesmo instante, parecendo compreensiva e de que estava a par de tudo, a vi então matar o último gole de bebida. Mas ainda sim eu estava curiosa. Remédios....remédios envolviam Química, e Química tinha tudo a ver comigo....vamos lá Lizzie, você não vai perguntar...você não vai...
"- Remédios?!" Me ouvi perguntando, e querendo logo na sequência me atirar pela aquela janela por ser tão bisbilhoteira.
"- Sim, tarja preta, sabe." Ela sorriu, falando com a maior naturalidade do mundo.
Fiquei sem expressão, sem saber o que fazer, e paralisada. A única coisa que passava em minha mente era: Você não devia ter perguntado, Lizzie, você não devia....você não devia...
Paulie deu uma gargalhada de repente que me fez olhá-la de forma estranha, como se eu tivesse levado um susto (o que era comum, vindo de mim). A vi levantar, e andar de um lado para o outro. Estremeci no mesmo instante, de pensar o quão perigoso era ela perambular daquela forma e naquele estado, afinal estávamos no telhado, ao que parecia era um dos lugares dela favoritos ali.
"- Não é incrível daqui de cima?!" Paulie abriu os braços, encarando todo o campus da escola dali, como se nem o céu fosse o limite para ela (...e eu tinha a leve impressão que realmente não era).
"- Sente-se, P. ...por favor!" Pedi, engasgando com a fumaça de meu cigarro que havia se embolado em minha garganta na tensão por ver o tamanho do atrevimento dela.
"- Calma, calma, pequena Lizzie, só deixe o ar te levar...." Paulie dizia toda sorridente enquanto o vento do final de noite e início de madrugada fazia suas madeixas dançarem no ar. Paulie gargalhou, e eu fiquei ainda mais temerosa, tendo a leve impressão de que ela ficava ainda mais maluca depois de uma garrafinha daquelas. No mesmo instante milhares de equações químicas sobre a reação do etanol no organismo me invadiu a mente, eram bilhares de consequências, mas fiz questão de afastar o pensamento, porque o que interessava agora era manter P. sã e salva. A vi se encaminhar para a beira do telhado, espiando para baixo a entrada do colégio. Levantei no mesmo instante, sentindo como se meu coração tivesse parado logo na sequência quando me toquei que estava também em pé no telhado.
"- Vamos para o quarto, Paulie"! Choraminguei.
"- Calma...por que?!...a noite é uma criança...." Ela dizia as exageradas gargalhadas. Minhas pernas bambeavam conforme eu tentava me aproximar.
"- Olha!!!" Meu coração subiu até a boca com a nova exclamação de P." - Vamos lá,....ainda está acesa..." Entendi o que ela queria dizer, afinal no prédio do dormitório era o único quarto que permanecia aceso.
"- Paulie, está tarde, não vamos incomodar ninguém!" Eu tentava algum tom autoritário, mas ainda achava que estava soando mais como uma criança chorona, porque P. se quer me respondeu, ou me ouviu, na verdade ela continuou na direção da janela que estava aberta.
"- Ei, ei, alguém ai?!" Ela perguntava já ao lado da janela. Eu estava quase próxima, havia aberto ambos meus braços para que tivesse mais equilíbrio, mas ainda sim temia, ao mesmo tempo que tentava manter o cigarro entre meus lábios. "- Vamos lá, apareça, temos bebida e cigarros! " Ela anunciava, tentando mais uma vez, até que finalmente houve resposta.
"- Quem está ai?!" Uma menina perguntou de dentro do quarto, e aos poucos fomos conseguindo ver seu rosto.
"- Aliana!!" Paulie exclamou animada na mesma hora que a viu, e eu deduzi que elas já se conheciam.
"- Vamos lá, entrem!" Ela convidou, e Paulie não pensou duas vezes, já estava com as pernas dentro da janela, enquanto eu, tentando ser sensata tentava ponderar na melhor maneira de entrar pela janela sem acabar tendo uma queda de sei lá quantos metros.
Quando consegui entrar, as duas já conversavam como se tivesse se conhecido de longa data. Paulie terminava a garrafa que tinha em mãos, e eu fora obrigada a apagar o cigarro e dar um fim nele, já que eu tinha respeito pelos quartos alheios e dava o direito das pessoas não gostarem de fumaça....sei lá né, vai saber.
"- Ali, essa é Lizzie...minha colega de quarto..." Paulie apontou para mim, e eu, timidamente, levantei um dos braços em um aceno contido. "- Lizzie, está é Ali, a conheci em um pub, em uma das minhas fugidas do colégio..." Revirei os olhos com a irresponsabilidade de P., mas vi Aliana me cumprimentar com um breve gesto afirmativo com a cabeça. "- Quer bebida, Ali?!" P. foi direto a assunto, e eu continuei no canto do quarto, ao lado da janela, distraída com os inúmeros livros que a menina parecia ter.
"- Não, não, obrigada, Paulie!" Aliana agradeceu, completando logo. "- Estou com os remédios...sabe..." P. concordou no mesmo instante, parecendo compreensiva e de que estava a par de tudo, a vi então matar o último gole de bebida. Mas ainda sim eu estava curiosa. Remédios....remédios envolviam Química, e Química tinha tudo a ver comigo....vamos lá Lizzie, você não vai perguntar...você não vai...
"- Remédios?!" Me ouvi perguntando, e querendo logo na sequência me atirar pela aquela janela por ser tão bisbilhoteira.
"- Sim, tarja preta, sabe." Ela sorriu, falando com a maior naturalidade do mundo.
Fiquei sem expressão, sem saber o que fazer, e paralisada. A única coisa que passava em minha mente era: Você não devia ter perguntado, Lizzie, você não devia....você não devia...
domingo, 22 de abril de 2012
“Vivo no quase, no nunca e no sempre. Quase, quase ...e por um triz escapo. “
sábado, 21 de abril de 2012
"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas."
20 de abril de 2012
"Eii, Lizzie, Lizzie, espera!" Reconheci a voz de Paulie no mesmo instante. O dia praticamente já havia corrido quase por completo, já estava anoitecendo, e mal tínhamos nos falado. Parei de andar, me virando e observando ela apressar os passos em minha direção. "Obrigada, por ontem! Você saiu bem..." Ela exibia um sorriso e estava reluzente. " ...com o negócio de mentir...e tals..."
Sorri de canto, sem muito ânimo, mas não soube distingui se estava daquela maneira por ter mentido para a diretora na noite anterior, ou por não ter contado como tudo ocorrera, e como eu conseguira despistar a diretora para ela quando cheguei depois no quarto, pois Tori já estava lá. Apenas respondi. "- Não foi nada, P." Foi tudo o que eu disse e me preparei para voltar ao caminho quando ela me interrompeu, provavelmente percebendo a maneira como eu agia.
"- Eii, de verdade, obrigada...eu sempre soube que podia contar com você!" Ela insistiu e por um instante achei que ela ia me abraçar, e me preparei para hesitar, dar um passo para trás. Mas ela não abraçou, como se adivinhasse que eu daria um passo para trás. Talvez P. me conhecesse melhor do que eu imaginava.
Dei de ombros, ainda falando da mesma forma. "- Já disse...não foi nada! Er...eu vou..." Indiquei pelo caminho que eu pretendia seguir, e P. concordou com a cabeça, como também não soubesse o que falar. Virei e dei alguns passos, talvez mais apressados do que eu deveria, e quando estava quase na metade do corredor, ouvi meu nome mais uma vez.
"- Lizzie..." Ela me chamou em tom o suficiente alto para que eu ouvisse, e pensei duas vezes antes de me virar, mas assim o fiz. Paulie continuava no mesmo lugar, parada e me observando. Não respondi nada, ela entenderia que só por olhá-la já estava esperando o que ela tinha a dizer. A vi diminuir o espaço entre nós, desta vez devagar, sem corridinhas como antes, como se também hesitasse. Parou a minha frente, e me encarou, e por um segundo achei que ela nada diria, e eu voltaria para meu caminho, então a vi abrir a boca para falar, e decidi que seria melhor aguardar. "-...o nome dela é Julia..."
"- Que?" Perguntei, sem entender sobre o que ela falava.
"- Sabe...a vampira..." Ela baixou o tom de voz, analisando os corredores antes de continuar. "-...que cuidou de mim. Eu consegui entrar em contato com ela...e...." Ela fez uma pausa, encarando meus olhos. Eu pensei em desviá-los, mas não consegui. "...eu quero que você esteja comigo quando eu for encontrá-la..." Paulie sorriu, e pela primeira vez vi um sorriso tímido no rosto dela. "..e assim, eu combinei hoje....na verdade, daqui há vinte minutos..." Vi seus olhos se desviarem para o relógio redondo pregado na parede do corredor, e um riso seguir. Acompanhei-a no riso.
"- Tem certeza?" Perguntei, continuando a encará-la. "- Porque talvez devesse ser algo que você precisasse fazer sozinha..."
"- Eu quero você lá. É só você querer estar lá também." Ela deu de ombros, com aquela maneira de simplificar tudo.
"- Tudo bem...eu vou." Anunciei, sem conseguir evitar de sorrir. Era bom saber que ela me considerasse importante a ponto de me querer lá quando fosse rever a moça.
Paulie sorriu, e murmurou um "obrigada" apenas movimentando os lábios. Concordei com a cabeça, e só quando passamos a andar, uma do lado da outra em direção a saída do prédio, parei para pensar. "- Eiii...isso significa a floresta?" Disse desconfiada.
Ela riu, e então me respondeu. "- Onde mais você pretendia encontrar uma vampira, Lizzie?"
Fazia sentido, e por um instante me senti estúpida, mas só dei de ombros, enquanto saíamos do prédio dos dormitórios e seguíamos para a floresta. Procurava sempre me manter atenta ao caminho, de barulhos a morcegos, tudo me assustava, e pensar que havia uma vampira solta ali, que a qualquer instante viria até nós, me assustava mais ainda. Paulie deve ter percebido minha tensão, porque quando estávamos já na floresta e no meio do caminho, ela disse. "- Tá tudo bem Lizzie, eu tô aqui, lembra?" Nos olhamos e eu concordei com a cabeça, mas ainda sim sentia cada músculo de meu corpo contraído em tensão. Ou estava muito na cara, ou ela me conhecia muito. Porque não mais que alguns minutos depois, senti Paulie roçar o braço no meu durante a caminhada, e a olhei algumas vezes, não por estar brava, mas estranhando aquele contado, e a vi sorrir de canto ao perceber as vezes que eu a olhava. Sacana. Pensei comigo mesma, já que ela sempre fazia aquela cara quando eu estava quase morrendo de tanto medo. Senti por fim ela escorregar a mão pela minha, entrelaçando os dedos. Olhei no mesmo instante para ela, quando ficamos de mãos dadas e cheguei a parar de andar."- Tá tudo bem, Lizzie." Ela voltou a dizer, com mais uma risada, e sem soltar minha mão, me puxou para que eu continuasse a andar. Seguimos o resto do caminho em silencio, até chegar em um tronco no meio da floresta onde ela se acomodou. Imaginei que era para sentar ao lado dela, e assim o fiz. "- Foi aqui que eu marquei. " Paulie disse, mas seus olhos estavam esperançosos encarando a floresta, e percebi que ela podia ser mais alerta que eu, quando queria. Ela começou a me contar, como havia sido a conversa das duas pelo telefone, contou que a diretora pediu para que a tal Julia desse até aula no colégio, mas que ela havia recusado a proposta. E não sei quanto tempo depois, percebi Paulie estremecer ao meu lado, o sorriso que ela demonstrou fez eu entender tudo antes mesmo dela me falar. "- Ela está ali...Julia está ali..." Ela apontou para o meio de algumas árvores mais altas, me puxando para lá.
A vampira estava nas sombras, e eu preferi ficar logo atrás de Paulie, como uma criança que se escondia, com receio e medo. Aos poucos, a mulher deu alguns passos em nossa direção, e conforme suas feições foram sendo descobertas, agora pela pouca iluminação que havia na floresta, pude ir reconhecendo a forma graciosa dela, assim como os livros diziam que os vampiros era. "Donos de uma beleza fora desse mundo." Me lembro da frase, que havia lido em algum destes livros sobrenaturais.
"- Olá, Julia,....é tão bom te ver de novo..." Paulie disse, sem hesitar, abraçando a mulher. Entendi que era um amparo que só a moça poderia dar, porque naquele instante era uma Paulie muito mais feliz, muito mais conformada com o que a realidade estava lhe entregando. Observei as duas, em silencio. Eu ainda tinha receio, mas era nítido o bem que aquilo fazia a P. Elas cochicharam algumas coisas, eu de onde eu estava era impossível ouvir, e então ouvi meu nome no meio da conversa. "- Julia, está é Lizzie....que eu tinha lhe falado..." Acenei timidamente de onde eu estava, sem de fato saber o que fazer. Ela acenou de volta, me cumprimentando, e começamos a conversar. Aos poucos a minha tensão ia diminuindo, ela parecia inofensiva, pelo menos ao lado de Paulie, e isso de alguma forma me acalmava.
"- Paulie, querida, eu tenho um presente para você..." A mulher disse ao final da conversa, quando já estávamos nos despedindo e de um dos bolsos do sobretudo tirou uma pequena caixinha. Eram as jóias mais lindas que eu havia visto. Duas jóias que, segundo Julia, protegeriam Paulie dos raios solares, permitindo que ela pudesse perambular pelo campus, já que vampiros, conforme a transformação era concluída iam perdendo algumas peculiaridades, entre elas poder continuar a andar sob o sol. "- E Lizzie, quero que garanta que Paulie não se esqueça de usar estas correntinhas!" Ela se direcionou para mim, e imediatamente concordei com a cabeça.
"- Pode deixar, que encher Paulie com as obrigações dela é o que eu faço de melhor." Todas nós rimos e P. concordou ao final.
"- Com certeza!"
"- Tem certeza?" Perguntei, continuando a encará-la. "- Porque talvez devesse ser algo que você precisasse fazer sozinha..."
"- Eu quero você lá. É só você querer estar lá também." Ela deu de ombros, com aquela maneira de simplificar tudo.
"- Tudo bem...eu vou." Anunciei, sem conseguir evitar de sorrir. Era bom saber que ela me considerasse importante a ponto de me querer lá quando fosse rever a moça.
Paulie sorriu, e murmurou um "obrigada" apenas movimentando os lábios. Concordei com a cabeça, e só quando passamos a andar, uma do lado da outra em direção a saída do prédio, parei para pensar. "- Eiii...isso significa a floresta?" Disse desconfiada.
Ela riu, e então me respondeu. "- Onde mais você pretendia encontrar uma vampira, Lizzie?"
Fazia sentido, e por um instante me senti estúpida, mas só dei de ombros, enquanto saíamos do prédio dos dormitórios e seguíamos para a floresta. Procurava sempre me manter atenta ao caminho, de barulhos a morcegos, tudo me assustava, e pensar que havia uma vampira solta ali, que a qualquer instante viria até nós, me assustava mais ainda. Paulie deve ter percebido minha tensão, porque quando estávamos já na floresta e no meio do caminho, ela disse. "- Tá tudo bem Lizzie, eu tô aqui, lembra?" Nos olhamos e eu concordei com a cabeça, mas ainda sim sentia cada músculo de meu corpo contraído em tensão. Ou estava muito na cara, ou ela me conhecia muito. Porque não mais que alguns minutos depois, senti Paulie roçar o braço no meu durante a caminhada, e a olhei algumas vezes, não por estar brava, mas estranhando aquele contado, e a vi sorrir de canto ao perceber as vezes que eu a olhava. Sacana. Pensei comigo mesma, já que ela sempre fazia aquela cara quando eu estava quase morrendo de tanto medo. Senti por fim ela escorregar a mão pela minha, entrelaçando os dedos. Olhei no mesmo instante para ela, quando ficamos de mãos dadas e cheguei a parar de andar."- Tá tudo bem, Lizzie." Ela voltou a dizer, com mais uma risada, e sem soltar minha mão, me puxou para que eu continuasse a andar. Seguimos o resto do caminho em silencio, até chegar em um tronco no meio da floresta onde ela se acomodou. Imaginei que era para sentar ao lado dela, e assim o fiz. "- Foi aqui que eu marquei. " Paulie disse, mas seus olhos estavam esperançosos encarando a floresta, e percebi que ela podia ser mais alerta que eu, quando queria. Ela começou a me contar, como havia sido a conversa das duas pelo telefone, contou que a diretora pediu para que a tal Julia desse até aula no colégio, mas que ela havia recusado a proposta. E não sei quanto tempo depois, percebi Paulie estremecer ao meu lado, o sorriso que ela demonstrou fez eu entender tudo antes mesmo dela me falar. "- Ela está ali...Julia está ali..." Ela apontou para o meio de algumas árvores mais altas, me puxando para lá.
A vampira estava nas sombras, e eu preferi ficar logo atrás de Paulie, como uma criança que se escondia, com receio e medo. Aos poucos, a mulher deu alguns passos em nossa direção, e conforme suas feições foram sendo descobertas, agora pela pouca iluminação que havia na floresta, pude ir reconhecendo a forma graciosa dela, assim como os livros diziam que os vampiros era. "Donos de uma beleza fora desse mundo." Me lembro da frase, que havia lido em algum destes livros sobrenaturais.
"- Olá, Julia,....é tão bom te ver de novo..." Paulie disse, sem hesitar, abraçando a mulher. Entendi que era um amparo que só a moça poderia dar, porque naquele instante era uma Paulie muito mais feliz, muito mais conformada com o que a realidade estava lhe entregando. Observei as duas, em silencio. Eu ainda tinha receio, mas era nítido o bem que aquilo fazia a P. Elas cochicharam algumas coisas, eu de onde eu estava era impossível ouvir, e então ouvi meu nome no meio da conversa. "- Julia, está é Lizzie....que eu tinha lhe falado..." Acenei timidamente de onde eu estava, sem de fato saber o que fazer. Ela acenou de volta, me cumprimentando, e começamos a conversar. Aos poucos a minha tensão ia diminuindo, ela parecia inofensiva, pelo menos ao lado de Paulie, e isso de alguma forma me acalmava.
"- Paulie, querida, eu tenho um presente para você..." A mulher disse ao final da conversa, quando já estávamos nos despedindo e de um dos bolsos do sobretudo tirou uma pequena caixinha. Eram as jóias mais lindas que eu havia visto. Duas jóias que, segundo Julia, protegeriam Paulie dos raios solares, permitindo que ela pudesse perambular pelo campus, já que vampiros, conforme a transformação era concluída iam perdendo algumas peculiaridades, entre elas poder continuar a andar sob o sol. "- E Lizzie, quero que garanta que Paulie não se esqueça de usar estas correntinhas!" Ela se direcionou para mim, e imediatamente concordei com a cabeça.
"- Pode deixar, que encher Paulie com as obrigações dela é o que eu faço de melhor." Todas nós rimos e P. concordou ao final.
"- Com certeza!"
sexta-feira, 20 de abril de 2012
"Quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."
19 de abril de 2012
"O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se entendesse."
A diretora, e também professora de literatura, Fay Vaughn, declamou como se fosse o eu lírio, e das primeiras palavras a última me identifiquei. Literatura sempre me fascinara, desde pequena me apeguei aos livros, porque foram, durante grande parte da minha vida de quinze anos minha grande companhia. Por eles eu podia viajar, sonhar, e ser quem eu quisesse. Cada livro eu era uma personagem nova, em um lugar novo, com uma aventura nova.
"- O que a autora quer dizer com as singelas palavras, Florian?" A professora indagou a uma menina de cabelo cacheado que parecia distraída com as unhas. A garota olhou para um lado, olhou para o outro, até decidir que não tinha a resposta, ou melhor até ver que ninguém sabia a resposta para soprá-la. Fay Vaughn pareceu por um breve momento decepcionada, eu podia ver em seus olhos, tão verdes quanto a grama após uma tempestade encantados pelas estrofes, assim como eu, e da mesma maneira que a professora, me revoltei que nenhum aluno ali prestasse atenção. A senhora Vaughn, ainda esperançosa, então se direcionou para outra aluna, provavelmente fazendo uma prece para que esta acertasse. "- Senhoria Morgan, poderia, por favor, responder a pergunta?" A menina fez que não com a cabeça. E eu respirei fundo, de raiva, não era tão difícil de se entender, não era um texto que exigia muito, estava na cara a resposta. Meus olhos se mantiveram atentos a professora, na esperança de que ela me chamasse. Quando os olhos da senhora passaram por mim, e eu abri um largo sorriso, ela finalmente disse. "Senhorita Campbell, por favor, mostre que ainda posso ter esperanças.."
Concordei com a cabeça, ainda com meu sorriso satisfeito, eu entendia perfeitamente o texto, ou pelo menos para mim, aquilo tinha a interpretação perfeita. " A autora vive em constante contradição, mas apesar de ela não se entender, ou entender o mundo ao seu redor, ela prefere pensar que compreende as coisas...porque não sabe se entregar a desorientação."
A professora abriu um largo sorriso, e baixou os óculos por um instante, como se pretendesse me observar melhor. Parecia satisfeita e orgulhosa, um orgulho que pareceu me tomar quase que no mesmo instante. Era difícil as pessoas sentirem orgulho de mim, ou qualquer outra coisa. Em geral eu era aquela pessoa neutra no mundo. "- Perfeitamente compreendido, senhorita Campbell! Esplêndido!" Vi Paulie trocar olhares comigo do outro lado da sala, e sorrir, também satisfeita. Me senti por um instante como se tivesse no topo de alguma coisa bem alta. Porém, a vi também escrever algo em um pequeno pedaço de papel, e em uma distração da professora, jogá-lo em cima da minha mesa. Meus olhos se desviaram para ela, no instante em que eu estava anotando a tarefa domiciliar. Franzi a testa para ela, afinal era errado jogar papel nos outros. Pouco tempo depois, descobri que havia algo escrito no papel (eu nunca fora de mandar bilhetinhos em aula). "Invasão hoje, depois do jantar. Esteja preparada, parceira de missões quase impossíveis." Era impossível não rir do bilhete dela, assim como era impossível não controlar o friozinho em minha barriga de medo.
A noite finalmente havia chegado. Banho tomado, jantar já na barriga, e a maioria das pessoas estavam recolhidas. Eu e Paulie estávamos apenas na espera para que o corredor fosse liberado, enquanto Tori...bom, Tori não voltava para o quarto já devia fazer uma ou duas noites, desde a última briga das duas.
"- Acha que já podemos ir?" Ela me perguntou, e eu pedi espaço para olhar a fechadura. Estávamos fazendo revezamento na mesma.
"- Acho que sim..." Disse, mentalizando que tudo daria certo.
Ela sorriu, e antes que saíssemos me disse em um tom um pouco mais baixo. " Obrigada, Lizzie. Você é a melhor amiga que podia ter me aparecido."
Apenas dei de ombros, como quem falasse: sempre que precisar.
Saímos sorrateiramente pelo corredor, sempre muito atentas aos arredores. Quando chegamos, finalmente a porta da sala da diretora, pude sentir meu coração ainda mais saltitante. Paulie tirou um grampo do cabelo, e habilidosamente, invadiu a sala. " Qualquer coisa tussa!" Ela me relembrou,e eu concordei com a cabeça. Enquanto P. estava lá dentro, eu continuava do lado de fora, fingindo, para as pessoas que vez ou outra passavam, que estava loucamente interessada no mural de monitoria, afinal eu não saberia o que falar se me perguntassem o que eu ali fazia. Minhas mãos, suando frio, eu mantinha no bolso, como se quisesse esconde-las, caso precisasse cumprimentar alguém. Não demorou muito, e quando eu estava próxima a porta ouvi Paulie. " Deu tudo certo, tô saindo."
Suspirei aliviada, respondendo. "- Tudo bem po...." Mas tive que interromper a frase no meio, com um ataque excessivo e exagerado de tosse quando dei com a diretora logo a frente de meu nariz. Minha esperança era que tivesse dado tempo de Paulie escapar. "- S-senhora Vaughn..." Abri um sorriso amarelado de forma tensa, e ela pareceu ponderar antes de me responder.
"- O que faz por aqui, senhorita Campbell?!" Ela foi direta, o que me fez estremecer toda de medo por dentro.
"- Bem...eu gostaria de conversar com a senhora..." Tentei ser o mais convincente possível, e ela pareceu não ver problema.
"- Tudo bem..." Ela indicou que eu entrasse e me acomodasse. Sorri, agradecendo pela gentileza.
A senhora baixou os óculos na mesa, e continuou a me olhar com curiosidade, e me atrevo a dizer, com um pouco de receio.
"- Bom...eu tenho namorado o mural das monitorias faz algum tempo..." Sentia as maçãs de meu rosto ferverem de vergonha. Eu não sabia como mentir, não sabia como lidar com a situação daquelas. "- E bem...tenho enrolado para falar com a senhora, mas eu gostaria de ser monitora de Física as sextas..."
"- Está mesmo interessada na monitoria, senhorita Campbell?" Concordei de imediato com a pergunta. "Ahhhh isso é ótimo, são poucas as alunas que com excelência de inteligencia, como a sua, optam por ajudar os outros..." A mulher abriu o mesmo sorriso orgulhoso que fizera na aula, e provavelmente suas referências se baseavam em minhas conclusões da aula de hoje. "- Creio que será se extremo proveito as outras alunas, e espero que elas reconheçam isso..." Sorri com vergonha, sempre ficava sem jeito com elogios. "- A monitoria de Física as sextas feiras é sua!" Sorri, aliviada por ela estar tão feliz que mal pensasse que ninguém ia falar sobre monitoria quase a meia noite.
"- Muito obrigada, senhora!" Agradeci, me levantando.
"- Eu é quem agradeço. Tenha uma ótima noite de sono." Ela respondeu, me observando sair da sala.
Segui direto para o quarto, antes que por algum motivo eu estivesse sendo sortuda demais em ninguém ter percebido minha mentira. Entrei no quarto rapidamente, com o coração saltitante pela adrenalina de ter mentido. Mas assim que entrei, percebi que Tori havia voltado para o quarto...não só para o quarto, mas para cama de Paulie. As duas pareciam ter pegado no sono há não muito tempo, mas pareciam estar bem...como se realmente estivessem juntas. Não encarei muito. Andando cuidadosamente, fui direto até minha cama, onde se quer me preocupei em trocar a calça jeans e o moletom pelo pijama. Deitei, virada para a parede, e por sorte, os fios de meu I-pod ainda estavam em baixo de meu travesseiro. Coloquei os fones na orelha, deixando a primeira música tocar. Só por garantia, era assim que eu pegava no sono.
"- Tudo bem..." Ela indicou que eu entrasse e me acomodasse. Sorri, agradecendo pela gentileza.
A senhora baixou os óculos na mesa, e continuou a me olhar com curiosidade, e me atrevo a dizer, com um pouco de receio.
"- Bom...eu tenho namorado o mural das monitorias faz algum tempo..." Sentia as maçãs de meu rosto ferverem de vergonha. Eu não sabia como mentir, não sabia como lidar com a situação daquelas. "- E bem...tenho enrolado para falar com a senhora, mas eu gostaria de ser monitora de Física as sextas..."
"- Está mesmo interessada na monitoria, senhorita Campbell?" Concordei de imediato com a pergunta. "Ahhhh isso é ótimo, são poucas as alunas que com excelência de inteligencia, como a sua, optam por ajudar os outros..." A mulher abriu o mesmo sorriso orgulhoso que fizera na aula, e provavelmente suas referências se baseavam em minhas conclusões da aula de hoje. "- Creio que será se extremo proveito as outras alunas, e espero que elas reconheçam isso..." Sorri com vergonha, sempre ficava sem jeito com elogios. "- A monitoria de Física as sextas feiras é sua!" Sorri, aliviada por ela estar tão feliz que mal pensasse que ninguém ia falar sobre monitoria quase a meia noite.
"- Muito obrigada, senhora!" Agradeci, me levantando.
"- Eu é quem agradeço. Tenha uma ótima noite de sono." Ela respondeu, me observando sair da sala.
Segui direto para o quarto, antes que por algum motivo eu estivesse sendo sortuda demais em ninguém ter percebido minha mentira. Entrei no quarto rapidamente, com o coração saltitante pela adrenalina de ter mentido. Mas assim que entrei, percebi que Tori havia voltado para o quarto...não só para o quarto, mas para cama de Paulie. As duas pareciam ter pegado no sono há não muito tempo, mas pareciam estar bem...como se realmente estivessem juntas. Não encarei muito. Andando cuidadosamente, fui direto até minha cama, onde se quer me preocupei em trocar a calça jeans e o moletom pelo pijama. Deitei, virada para a parede, e por sorte, os fios de meu I-pod ainda estavam em baixo de meu travesseiro. Coloquei os fones na orelha, deixando a primeira música tocar. Só por garantia, era assim que eu pegava no sono.
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